quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

António Gedeão






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Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moínhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moínhos? São moínhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão (1906-1997), in “Poemas escolhidos” (antologia organizada pelo autor), páginas 9 e 10, edições João Sá da Costa, Ld.ª (1996), na 8ª. Edição, Lisboa, Março de 2002.

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