NÃO ME MATES SÓ POR ME MATAR
Não
me mates só por me matar
Mata-me
a fomeE arrecada o pão
Que não te atormenta
Para me matares amanhã
De novo.
Mata-me
de olhares de amor
Não
com o brilho da piedadeNão me mates de pena
Mata-me em gestos de carinho
Com afagos
Sem balas perdidas
Certeiras
Mata-me
a sede
Com
o copo que te enfeita as manhãsDe todos os dias
Não me mates a vergonha
De ser filho do outro lado da vida
Mata-me o silêncio
Que me escorre nas faces
Em dias de chuva
Onde purifico o corpo
Os
mesmos dias em que não purificas a alma
Por
não lhe conheceres a esquina do seu grito…
Não
me mates só por me matar
Mata-me
o princípio de ti
Que
termina no resto de mim…
Depois
Se
te quiseres matarMata-te!
Mas
deixa-me ficar
Continuar
neste meu sóbrio desejoDe lutar!
Manuela Fonseca, in “Poesia sem remetente”, páginas 54 e 55, edições Temas
Originais, 2010.
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