Hei-de arrancar as palavras com os dentes
Hei-de
arrancar as palavras com os dentes
espremê-las,
uma a uma com a saliva que meresta
hei-de suportá-las mesmo que me cortem a língua
e a sirvam aos cães pródigos da benevolência, a
ira
Saberei
à mesma escrevê-las
nas
flores de Maio, em pleno inverno,antes do romper da frígida madrugada
em punhos feitos de mármore escarlate
Hei-de
desenhar nos escarros desta liberdade
os
nomes a carvão, onde Auschwitz calou os seus
Hei-de
levantar a voz, engolir a palavra em seco
e
vomitá-la onde a surdez cala, corrupta
Conceição Bernardino
A
noite cerca-nos, devora-nos,
Sem
que saibamos o nome um do outro.Procuro o rosto com os dedos,
Como o pólen que respiro da tua boca.
Já
não sei ouvir o mar sem encostar
O
ouvido ao teu peito,Nem olhar o céu sem que me emprestes
Os teus olhos dormentes.
Resta-me
o sujo dos lençóis
Onde
as minhas mãos se arrastamDentro desta loucura precoce.
Carlos Val
Tropecei nos silêncios de pedras calcinadas
defronte a uma esquina de vidro, ao longe acoluna dorsal do mar dobrava-se em delicadas
vértebras, lambendo as sequelas enraizadas de
salitre na “Vesperata” onde a luz e as sombras se
encontram.
Quis sentir-lhes o sabor…saboreei o primeiro trago
na inocência – a ilusão – o segundo o despotismo
enfadava a razão, o terceiro trago servia para
sustentar qualquer condição.
A vida é tão estúpida que estupidez alguma a
reconhece quando no lamaçal a morte se finge
acordada.
Mathilde Gonzalez
In
“identidades”, página 10 (Conceição
Bernardino), página 75 (Carlos Val)
e página 115 (Mathilde Gonzalez),
edições Lavra… boletim de poesia, Vila Nova de Gaia, 2013.
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