quinta-feira, 14 de julho de 2011

A cada ciclo da lua


Deste sangue que me escorre da alma,
desta dor que se enlaça à carne,
provocando-a,
devorando-a…
Fica um segmento de vida
pendurado num tempo que jamais retorna.


Palpita-me que o pensamento fugiu
à vontade de ficar.
Que as cordas
que tocam a voz aposentaram-se
cansadas de gemidos silenciosos
e de gritos que se recolheram
à chegada da dor.


Para que não deixe o corpo morrer
injecto-me de palavras
que me enchem o peito de ar
e brilho nos olhos.
Só o oxigénio de um poema me faz renascer.
Só o chão feito de roldanas aguçadas
faz mover as frases compostas de esperança,
não esmorecendo o sorriso.


Por vezes também vens, atenuando-me a dor
ao embriagar-me os sentidos.


Vou rasgando devagar o tempo.
Vou alimentando aos poucos
o futuro que já se adivinhou,
tentando me convencer que o sol vai lá estar,
mesmo em céu encoberto e frio.


Cego-me sempre,
ao nascerem-me lágrimas rosadas, a cada ciclo da lua.

Vanda Paz

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