domingo, 24 de julho de 2011

[recordo]


recordo
a minha mãe estende a roupa e canta

canta uma cantiga
que me soa a uma espécie
de hino à alegria

mas não o de beethoven
que agora desfralda a bandeira
da tal união

não essa
ode na die freude
escrito pelo schiller

aquela canção
que a minha mãe cantava
era de outra sorte

trazia consigo o sol preso
à sua voz

mesmo que só o vento
afagasse a roupa
que estendia

que estende
agora mesmo
no despertar da minha memória

vinha de um lugar
onde as palavras eram ditas
por gestos

um aceno
um sorriso
um aperto de mão
um abraço

palavras
que poema algum soube guardar


Xavier Zarco

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