recordo
a minha mãe estende a roupa e canta
canta uma cantiga
que me soa a uma espécie
de hino à alegria
mas não o de beethoven
que agora desfralda a bandeira
da tal união
não essa
ode na die freude
escrito pelo schiller
aquela canção
que a minha mãe cantava
era de outra sorte
trazia consigo o sol preso
à sua voz
mesmo que só o vento
afagasse a roupa
que estendia
que estende
agora mesmo
no despertar da minha memória
vinha de um lugar
onde as palavras eram ditas
por gestos
um aceno
um sorriso
um aperto de mão
um abraço
palavras
que poema algum soube guardar
Xavier Zarco
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