domingo, 3 de março de 2013

A imortalidade





81 - David Fernandes








Artes, engenho, mera força
e no entanto a luz
emudecente
como fragmentos de livro
para um léxico incompleto.

Logo a apneia involuntária
assustadora como se aparecesses
mas efémera porque não.

Deste alívio se pressente então possível
uma validade insubmissa
como se o tempo não trespassasse tudo
a ver-se
mas tu nunca chegares.

Caminha-se com ele
mas não há desarranjo nos relógios
ou nas sirenes das fábricas
nem desânimo nas aves que migram.

E no entanto a sombra de tudo
perfeitamente como é de ser:
alfabetos vivos e mortos,
até dicionários sem serventia,
bibliotecas imensas de saber:
um universo de sombras
de perfeitas engrenagens.

 
David Fernandes


Sem comentários: