Não penses que morri por ter partido
ou que parti só por ter morrido.
Onde estive não estive e onde estou
não estive nunca. Não penses que me vês
só por me veres, ou que por não me veres
eu não existo. Nem penses que existo
se me vires, ou mesmo que existes
por me veres. Não penses que me amas
porque amas o que os teus sentidos
de mim sentem. Nem penses que me sentes
ou me amas só porque me sentiste e amaste.
Não somos nada e tudo somos sempre,
embora sempre eterna seja a eternidade
e a nossa eternidade não exista.
Amadeu Baptista
in livro "Paixão" (Prémio Vítor Matos e Sá, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001 e Prémio Teixeira de Pascoaes, 2004), Porto, Afrontamento, 2003
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