Mondadeira de mãos doces…
Embarca os teus sonhos
De terra molhada,
Na sede das águas…
Solta as velas,
Que guiam o teu corpo,
No perfume das marés.
Entrega ao Mondego
As cantigas da tua pátria
Que os lábios beijam,
No voo das andorinhas.
Mondadeira de mãos doces…
Agarra a pressa do vento
Por entre o abraço das espigas,
Que preenchem os arrozais.
Dança na luz,
Que te adoça a pele.
O teu chapéu de abas
É como um malmequer
Com pétalas de Sol,
Onde as libélulas vêm pousar
Para escutarem o teu riso.
Mondadeira de mãos doces…
Os braços que embalam
Os filhos do teu ventre
São os mesmos
Que, em ternura, se abrem
Aos arrozais infinitos.
E o campos,
Pintados de verde e ouro,
Guardam os segredos
Dos teus pés descalços,
Felizes, a sangrarem.
Mondadeira de mãos doces…
Quando a noite chegar,
Descansa o gume da tua foice
Sobre as marachas em flor
E enche os olhos de céu.
No silêncio das marinhas,
As estrelas misturam-se
Com as raízes do arroz
E os versos do teu canto
Arrebatam fios de luar
À nostalgia do Mondego…
Lurdes Breda
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