quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

RIA DE AVEIRO

Já não era mais a infância
ou o que dela às vezes resta
quando a palavra é saudade.

Já não era mais, ou apenas, a ria
de cor sempre fundida ao céu
as algas elevando-se como cabelos
despenteados ao movimento das marés.

Já não era também a ronca
quero dizer, o som sincopado do farol
nas noites em que os barcos se perdem
no profundo mistério do nevoeiro
e não há luz nem norte.

Já não era, por último, só a nortada
o vento cortante que eleva a areia
ou as ondas poderosas que nos fazem deter
porque, subitamente, o futuro acontecia
quente, alegre, tranquilo de memórias
trazido aos braços pela tua presença.

Pedro Strecht

in livro "Ternura", Lisboa 2004, página 12

1 comentário:

Anónimo disse...

francamente MAU!