67 - João Rasteiro
O amor ferve
de uma ferida exangue
de foles de
corpos frescosde caminhos e sonhos dilatados
de vertigem de ser só sede
de espaços que se tornam pele
de palavras de gume branco,
o rumor azul.
Há amor
carregado de sol e águas cegas
e há amores
como lágrimas fulgurantescomo um eco de um princípio inacessível.
O amor vem
de corações fragmentados
de um sabor
para além de tudode uma disseminação de vozes
de bocas e fogo unido à terra
de uma força feroz na paz dos pulmões
de torres de sílex negro,
animais insólitos.
Há amor
aberto de imensas pedras cruas
e há amores
entre a parede e o silênciocomo linhas paralelas de pequenos círculos.
O amor forma
cúpulas diáfanas
de livros
ilegíveis na sombrade arcos sob grandes gargantas ocultas
de um corpo côncavo em luz
de um tempo concreto no respirar do verbo
de profunda ausência das raízes,
a chama da terra.
O amor
dilata-se e dilata-nos de veias ateadas,
invoca e
insufla a pele sagrada de sal aceso na água,é serpente que morde a própria cauda diurna,
dilacera palavras nuas por outras palavras desnudas,
mas, não se
pode adiar mais o amor indivisível
que rasga o
mundo feérico na dobra aberta dos dedos,eles, íngremes no cintilante jade onde nasceu a magnólia.
Não se pode
adiar mais o coração do amor primordial
que acende o
tempo no lume venerável das pirâmides,essa nudez de memória álgida que nos aflora a boca,
estremecendo de melancolia os corpos inóspitos de Deus,
a
conciliação do corpo e da sílaba, desfraldada em sua haste.
.
João
Rasteiro
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