sexta-feira, 27 de abril de 2012

Apresentação dos livros "Máscara da Luz", de António MR Martins e "Memória das Cidades", de V´´itor Cintra, na Casa da Cultura, em Coimbra, em fotos - 26.Abril.2012


Casa da Escrita, em Coimbra.
A porta por onde entrámos
e saímos.

A montra dos livros em apresentação.

O cartaz publicitando a sessão no local.

Um pormenor da envolvência do belíssimo espaço
que é a Casa da Escrita.

A mesa de honra.
Da esquerda para a direita: O poeta Vítor Cintra, autor de "Memória das Cidades",
o Prof. Doutor Alexandre Sá, que apresentou obra e autor de
"Memória das Cidades", Pedro Baptista, o editor, pela Temas Originais,
Clara Maria Barata, que apresentou obra e autor de "Máscara da Luz" e
o poeta António MR Martins, autor de "Máscara da Luz".

Pedro Baptista que deu início à sessão, coordenando-a
depois, no uso da palavra.

Clara Maria Barata apresenta "Máscara da Luz" e
seu respectivo autor.

O Prof. Doutor Alexandre Sá, apresentando
"Memória das Cidades" e o seu autor.

António MR Martins fala sobre o seu livro "Máscara da Luz"
e sobre a sua presença em Coimbra.

Vítor Cintra no uso da palavra, falando sobre a sua
"Memória das Cidades".

Por fim, o habitual momento dos autógrafos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Apresentação, em simultâneo, dos livros "Máscara da Luz", de António MR Martins e "Memória das Cidades", de Vítor Cintra, em Coimbra, na Casa da Escrita, na próxima Quinta-feira, dia 26 de Abril, pelas 18H00.



Casa da Escrita, em Coimbra.


Amigos(as),


Mais uma estação no itinerário do nosso trem à volta das apresentações, em simultâneo, dos livros "Máscara da Luz", de António MR Martins e "Memória das Cidades", de Vítor Cintra. Desta feita vamos parar um pouco em Coimbra e saborear o espaço onde se vai realizar esta sessão, que terá lugar na Casa da Escrita, sita na Rua Dr. João Jacinto, nº. 8, Sé Nova, apelando à vossa presença, para que nos possam acompanhar neste salutar e fraterno percurso.

A sessão ocorrerá na próxima Quinta-feira, pelas 18H00.

Obras e autores serão apresentados pela poetisa Clara Maria Barata e pelo Prof. Dr. Alexandre Sá, respectivamente.

Apareçam, e tragam mais amigos convosco e vamos passar mais uma tarde agradável, numa linda cidade e num belo espaço onde a cultura está sempre viva.

Viva a poesia!


QUINTAIS DO DESEJO



Sharon Stones da minha alma de saia curta bem me picam
Descruzam pernas no meu texto como se eu não soubesse o que lá existe

Já lhe chamei um búzio e ouvi nele o barulho de um porto:
De barcos que partiam mal chegados, de ruídos de sirenes,
de apitos de cais, do descer chiado dos botes
Do ranger celestial dos guindastes

O vento sempre me soprou nesse barulho de mar a liberdade
Virando páginas dentro de mim
Aproveitando velas içadas nos meus dedos de mãos abertas
Mas houve vezes em que o ar se tornou insustentável
até para as gaivotas
Forçadas a romper os dias pelas ancas

Foi pelos dedos que lavrei a terra a cada vez que acostei
Na enseada calma do teu corpo estendido,
Ilhéu descalço onde me coroaste rei

Com as tábuas do meu barco fiz casas para te morar
Como quem cerca uma propriedade por dentro,
Nesse extenso egoísmo de terra-tenência que é amar

E depois, quando foi tempo novamente de largar amarras
Derrubei as árvores que tinham nascido nos
quintais do nosso desejo
Para fazer um amor que fosse capaz de flutuar

Foi por isso que ainda não cheguei da viagem ao
coração de uma mulher
Perdido que estou, algures entre a partida e o caminho


José Ilídio Torres

in: «Os poemas não se servem frios» Temas Originais 2010

Espectáculo "Abril Solidário", festa solidária comemorativa do 38º aniversário do 25 de Abril, no Centro Cultural de Ansião, onde li poemas de Abril de minha autoria (organização JS), 24 de Abril de 2012, 21H00.

Exibição das Alunas da
Academia de Dança da Filarmónica Artística Pombalense

Uma dança.

Outro apontamento.


Poemas de Abril

Leitura de 3 poemas de António MR Martins, pelo próprio
e 3 poemas de outros autores de Abril, pela Sílvia Ferrete

Sílvia Ferrete lê poesia de Abril.

António MR Martins, lê um seu poema.

Mais uma leitura da Sílvia Ferrete.

E outra de António MR Martins.

Isilda Dias, apresentadora do espectáculo, e um militante do PS local.

Cantar Abril "A Guitarra Portuguesa e o Fado",
com Tó Silva, filhos e convidados


João Silva, na guitarra clássica.

Tó Silva, na guitarra portuguesa.

Da esquerda para a direita: Ricardo Silva, na guitarra portuguesa e voz,
Tó Silva e João Silva.

Carina Abreu, fado tradicional.

Patrick Mendes, fado de Coimbra.

Viva a essência de Abril

Lendo poemas de Abril, de minha autoria, no espectáculo
"Abril Solidário", no Centro Cultural de Ansião, em  24 de Abril de 2012 (noite).

Há um Abril esquecido
Entre o olhar e a garganta
E um outro sentido
Que de nós nunca desanca

Há um grito permitido
No silêncio de cada imo
E um Abril só e perdido
Em enorme desatino

Há um expoente malogro
Entre a essência ofuscada
Mas o Abril dos cravos
Será sempre data recordada

Há um sorriso preso
Na mácula de tanto sentir-se
E o Abril que foi dos cravos
Fraqueja e está a esvair-se

Que se não perca Abril
Pelo valor que contém
Que foi sempre aproveitado
Por tanto filho da mãe

Eleja-se Abril, sempre
Pela voz que é do povo
E perante Abril saudade
Se crie um Abril novo

De essência não diferente
Mas de teor fortalecido
Viva Abril, viva Abril
Que jamais será vencido


António MR Martins

25 de Abril de 2012

terça-feira, 24 de abril de 2012

NUVEM


carrego uma nuvem às costas
como se dependesse de mim
permanecer no silêncio

naquele silêncio
que não se quer rígido
esquecendo-se do propósito
de existir e de alimentar o fogo

sossega-me ver uma casa ao longe,
adormecida no ceptro
de terra abandonada

uma casa caiada de branco, todas
as casas o são, mesmo que os olhos
roubem a realidade
e deus a ignore.

a memória verga todas as coisas,
mesmo o silencioso movimento
da não-existência.

tudo é ilusório.

a casa abraça
a ferrugem dos corpos caiados
de gestos. os dedos movimentam-se
numa sinfonia de trevas

jorge vicente

Terras perdidas




No campo rudimentar absorto
onde as ervas crescem daninhas,
para as culturas está morto
nele já não passam libelinhas.

As aves abalam assustadas
cantando as mágoas alheias,
daquelas terras assombradas
outrora ouro de suas aldeias.

Secam-se no tempo memórias
enredos de diversas labutas
no amanhar radioso do chão.

Passaram-se tantas histórias
no afago a cereais e a frutas
sempre com enorme paixão.

António MR Martins

Foto: Kaiping (China), by Gonçalo Lobo Pinheiro

segunda-feira, 23 de abril de 2012

TERRA CANTADA



Terra cantada ao som de uma guitarra,
Acordes suaves em cada gesto
Movimento de mão sedenta agarra,
Corda que dedilha, andamento lento.

Harmónicos, agradáveis trinados,
Que se elevam no ar, anilham...
Etéreos sons tantos recusados,
Porquê? Negam o amor não brilham.

Música do vento, cearas que dançam,
Alento de beijo nas espigas doiradas,
Tudo é música e na terra vibram,
Em surdina cantam enamoradas.

Campo, fazenda, planície, tudo,
Tudo que queiramos chamar,
Em qualquer átomo nada é mudo,
Existência de vida a cadenciar.

Existe guitarra a tocar de mansinho,
Como um borbolhar a nascer da terra,
Há uma cigarra a cantar baixinho
Acordes que se espalham p'la serra.

Cordas que tangem sons penetrantes,
Acordes que entoam e se dispersam,
Se elevam, sustêm ardor de amantes,
Que em ritmo, te envolvem e abraçam.

Gabriela Pais

Sonhar com a utopia

Sonho
Com as finitas recordações
Sonho acordado com elas
Neste misto de recordações
Visionado em múltiplas janelas

Sonho
Com o gesto da criança
Brincando na praça livre
Almejos de uma bonança
Por que muita gente vive

Sonho
Com o trajecto futuro
Recheado de boas novas
Onde o virtuoso apuro
Desenvolva belas trovas

Sonho
Com melodias supremas
Juntas a belos cânticos
Onde sublimes poemas
Nos façam sentir românticos

Sonho
Com a pobreza perdida
E nunca mais encontrada
Onde se sarem todas as feridas
E as vidas sejam festejadas

Sonho
Com a amizade sentida
Em relances de felicidade
Amando de forma sofrida
Toda a nossa realidade

Sonho
Com um mundo que tarda
Nos passos para a Igualdade
Que no nosso âmago não arda
A plenitude para a Liberdade


António MR Martins

Sem condição,



Hoje não estou para ninguém.
Não sei sequer se estarei para mim mesmo.
Pego na bicicleta e saio, com urgência, sem rumo.
Sinto cada pedalada com prazer, com raiva, com razão de ser.
Pedalo mais e mais, acelero, desvaneço e olhando a paisagem com loucura, sinto o suor a escorrer...tanta vida em mim, exaustão de Ser e aqui sozinho sinto-me a meu belo prazer.
Não sei se é adrenalina que me corroí o sangue, se cansaço que me tolhe a alma, sei apenas que quero gritar.
- Raios!!!
Quero gritar horrores e pedalo mais e mais e mais, em busca da perfeição...
Devaneio, que me consome, delírio de ilusão.
Poderia morrer agora, far-se-ia canção???
Com este meu eu imperfeito, de tanto procurar me deleito.
Dei-me mil vezes, nunca sendo suficiente, e agora que o vento me bate no corpo transpirado, inquieto, o coração acalma, sinto paz infinita chegada, instantânea, abalada?
Passo a ponte.
Olho o horizonte e o tempo há muito ficou para trás, o anoitecer, mistura-se com as cores da paisagem e faz sombreados de inquietação, sinto-me tudo, sinto-me nada, mas sou eu quem delego a condição...

Lina Pedro

Livro




Desfolho as tuas páginas
na procura do teu enredo,
que mesmo pobre em ruínas
manobro-te como brinquedo.

Ler-te é grande felicidade
que não consigo quantificar,
creio-te no bem e maldade
entre palavras de encantar.

Seja em prosa e poesia
ou em outra área qualquer,
ter-te será simples magia
relendo-te quando eu quiser.

És o aconchego da alma,
lendo-te tudo se acalma.


António MR Martins

Dia Mundial do Livro, 23 de Abril de 2012

domingo, 22 de abril de 2012

ESTOU SEMPRE AQUI


Não penses mais como chegares até a mim.
Não te martirizes. Vem. Não dês cabo de ti.
Conheces que no meu caminho tem um fim,
uma estrada de pó e um livro qu’escrevi...

Não te importes com o mundo que te diz mal.
Deixa-os pensar no que não sabem. Abre a saída.
Escancara-a e parte em busca do qu’ é real!
Estou aqui p’ra ti. Tens em ti a minha vida!

A cama está livre. Os lençóis estão frios.
Sabes que aos meus mares vão ter todos os rios.
Em cada onda há um sonho a flutuar.

Não deixes de viver em paz. Vem. Caminha.
Tenho comigo uma sombra que dá sombrinha.
A luz que precisas sabes onde a encontrar!

Joel Lira

(Soneto – Estd’alma)

Ilusão






Nas vestes da ilusão
se desmoronam projectos,
desabam ideais,
se despedaçam corações.

Tal como
as aparências iludem
nada é conforme aparenta.


António MR Martins

Foto: Palawan (Filipinas), by Gonçalo Lobo Pinheiro.

sábado, 21 de abril de 2012

DOIS SONHOS

Tive dois sonhos que não entendi...
num sonhei que sonhava,
noutro sonhei que um anjo via...
num não entendi o que sonhei,
no outro não sonhei o que queria...
juro que nenhum inventei...
um tinha um anjo que eu conhecia
com asas de fogo de espantar...
sei que era meu amigo,
mas não sei explicar...
só sei que jogava cartas comigo
e deixava-me sempre ganhar...
do outro já sei dizer,
mesmo sem também  o entender...
nesse sonhei que Deus tinha vindo ter comigo,
e que numa fantasia louca
me deixou ser Ele...
e em eu me achando Deus,
desatei a rir e a chorar...
e deixei ficar
tudo no mesmo lugar...
nada fiz, nada mudei,
nada de novo criei...
e assim, nestas andanças,
entendi de repente...
que os Deuses são apenas crianças
sonhando que brincam com a gente...


Abílio Cardoso Bandeira

Ausência




Quando as ausências se percorrem
com beijos invisíveis…

Tudo se sente,
tudo se inventa,
tudo se pensa.

Nada se descobre
e tudo fica por acontecer.


António MR Martins

Foto: Palawan (Filipinas), by Gonçalo Lobo Pinheiro

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Terra Condenada

É um choro sem lágrimas
É um Sol que brilha
É um calor que não aquece
É uma Lua que inspira
É um amor que não se vê

É uma filha sem mãe
Nesta Terra condenada

 

Maria do Rosário Loures

Te dou este meu canto


Sinto os teus olhos sorrir
como se fora tua boca,
parece quererem pedir
um beijo nela em troca.

Sinto rubor no teu olhar
como se fora na face,
que me faz enamorar
sem conseguir um disfarce.

Sinto cantigas singelas
trovas de muito encanto
com letras tidas por belas.

Sinto que te quero tanto
amando sem mais balelas
que te dou este meu canto.


António MR Martins

Kok Mak (Tailândia), by Gonçalo Lobo Pinheiro

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Rosa Negra


Vestiu-se de negro a rosa
No velório da paixão
Lonjura de miragem
Que não pode alcançar.

As encostas desertas…áridas
De negrume esculpidas
Sem perfume pétalas enrugadas
Lágrimas derramadas
Nos espinhos viçosos do caule.

No dorso aguilhão cravado
Sedução sem pudor
Dança a marcha fúnebre
Há muito sem melodia ficou

Um canteiro sem terra ou água
Em dor e desamor
Desilusão sem morada
Na ilusão só por si procurada.

De véu caído no abismo
No altar da iniquidade
Assim findou
No nu da alma
De negro pintada…


Ana Coelho

Vozes silenciadas



Esgravatam os ânimos rebeldes
Indispostos pela tolerância
E para tantos outros afagos

Os fogos se desvanecem
Os pruridos se elevam
As mentes enlouquecem
E as verdades não se relevam

As melodias são confusas
E a ilusão incorporam
Entre tantas palavras difusas

Os aceiros já não dividem
As pedras esmorecem
As árvores não se agitam
As vozes não têm comando
E as vidas não têm conserto
Pelo desespero que assentam

Há um cântico amordaçado
Em tanta voz do silêncio

António MR Martins

Foto: Kaiping (China), by Gonçalo Lobo Pinheiro.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Voz Interior


(A João de Deus)

Embebido n'um sonho doloroso,
Que atravessam fantásticos clarões,
Tropeçando n'um povo de visões,
Se agita meu pensar tumultuoso...

Com um bramir de mar tempestuoso
Que até aos céus arroja os seus cachões,
Através d'uma luz de exalações,
Rodeia-me o Universo monstruoso...

Um ai sem termo, um trágico gemido
Ecoa sem cessar ao meu ouvido,
Com horrível, monótono vaivém...

Só no meu coração, que sondo e meço,
Não sei que voz, que eu mesmo desconheço,
Em segredo protesta e afirma o Bem!

Antero de Quental

Pelo 170º aniversário do seu nascimento.

Piso inerte

Calcorreado o sentido
Do firme desiderato
Nada cambiou

Apenas uma ave sorri
Com seu animado canto
Entre as folhagens da árvore

Já o desânimo se alinhou
Em pedaços de tristeza

Vêem-se as nuvens tocar o céu
Em carícias do momento
Num ensaio dos mais belos

Metamorfose da natureza
Em caprichos de outra índole
Mas valiosos em conceitos

Há um resto de nós
Em toda esta mudança


António MR Martins

terça-feira, 17 de abril de 2012

Piano enigmático


Deitas-me sobre
teu piano enigmático,
cobres-me de olhares silenciosos
sussurras-me pautas penetrantes.

Delicio o teu sabor letal
entre as notas que escoro
na rebeldia das cores
que se curvam ao fastígio
da minha avidez lasciva.

O teu olhar predador
persiste em seguir-me
e eu não resisto
desejo ser a tua presa
a mais indomável.

Desejo ardentemente
ser possuída,
algemar a minha demência à tua...

Conceição Bernardino

Ficando parti


Réstia
De um caminho
Que me esqueci de encontrar

Palco
De um tempo
Que não soube acompanhar

Asfalto
Rudimentar
Que não consigo valorizar

Terraço
De uma vida
Que parou de germinar

Paleio
De múltiplas vozes
Que não me permitem concentrar

Centro
De um inexistente mundo
Que não paro de imaginar

Olho à minha volta
Nada por descobrir
Uma voz se solta
Não a quero ouvir
Amargo a revolta
No sentido de partir


António MR Martins

Foto: Cavalos Puro Sangue Lusitano, by Gonçalo Lobo Pinheiro

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Menina das tranças loiras


Menina das tranças loiras
Que caminhas
À beira da estrada
Levando sonhos embrulhados
Em tule azul celeste
Não vês como é grande e estranha
A saudade
Que paira sobre a tua cabeça

Ora descobre o Sol…
Ora cai a Chuva…

E tu, menina das tranças loiras
Desdobras a saudade
Ao Sol
Enquanto caminhas ansiosa
Na direcção do Cais
Apesar de saberes que lá
A Chuva cai
E os sonhos não voltam

Sentada à beira do Cais
Vês o atracar de navios
Abarrotados de gente
Que vai para o lado de lá
De ti

Subitamente, o mar revolta-se
Com a audácia dos teus sonhos!

E a Chuva cessa…

Olhas para trás
E desejas correr
Em busca do momento perdido
Mas é tarde…

Ficas à beira do Cais
Olhando para os navios
Estáticos e vazios
Abres as mãos
E deixas deslizar
Por entre os dedos
A saudade inútil
Que outrora desdobraste ao Sol
Como sendo destroços
De um naufrágio
Lançados à praia…

Manuela Fonseca

Vidas a eito estragadas

Balança enfim a corrente
que orienta os sentidos,
trajando de outra vertente
e nos toma por foragidos.

Surgem múltiplas contradições
subtilezas noutros capítulos,
restando sempre as condições
para sorridentes títulos.

Sorteiam taxas sem nexo
e juros sem tempo de mora
numa cabala sem medida.

Baixam proventos em anexo
sobem impostos a toda a hora
e estragam-nos assim a vida.


António MR Martins

sexta-feira, 13 de abril de 2012

MINHA POESIA


minha poesia não foi educada
na escola de bilac
e nunca será convidada para o chá
dos imortais da academia brasileira de letras

minha poesia caminha descalça pelas ruas
do centro velho de são paulo
nenhum tradutor francês perderá seu tempo
debruçado sobre ela
não será lembrada nos saraus familiares
nem nas escolas nos dias de festas cívicas depois que a
bandeira nacional onde se lê Ordem e Progresso
for hasteada por uma menina loira

minha sai de casa
todos os dias muito cedo - da favela heliópolis
pega o ônibus lotado
desce pela porta da frente sem pagar a passagem
e vai vender balas no cruzamento da brasil com a rebouças

minha poesia é uma puta depravada
que dá por qualquer dinheiro
mas se bobear assalta e é capaz até de matar
minha poesia se alimenta do lixo das palavras
podres proibidas que não cabem na boca
das pessoas de bem e por isso deve ser execrada
de todas as antologias e condenada a trinta anos de silêncio


Júlio Saraiva

terra sofrida


terra movida
a mãos ambas
com o suor do lavrador

isso era no tempo de antanho
agora é com outro engenho
com o auxílio dum tractor

terra manhã
na destilada poeira
sobrada do amor

isso era noutros tempos
onde existiam alentos
dinamizadores de tanto fragor

terra dorida
manhã sorridente
refúgio restaurador

isso era outrora
ao romper da aurora
quando se ultimava tanta dor

terra provento
terra alimento
terra sustento

isso é desalento
ou consentimento
e muito sofrimento


António MR Martins

Pelo Casal de S. Brás, Amadora, by Ricardo Sobral.

Nas tuas Mãos


Nas tuas Mãos
corre um rio arqueado em delta maior
onde crepitam mil margens angulares
na lareira intensa dos nossos olhares

Nas tuas Mãos
cresce um tempo soletrado no silêncio
de luares profanados por esta paixão
na terra ancorada dessa tua razão

Nas tuas Mãos
soltam-se asas de anjos flutuantes
envolvidos nas voltas da madrugada
e a lua amanhece cheia de luz salgada

Nas tuas Mãos
desaguam sonhos como nascentes
fontes sedentas no ventre dos cristais
respirações etéreas como vendavais

Nas tuas Mãos
reconheço a profecia confessada
na voz do mar ao chegar
à foz do verbo aMar...


Cristina Fernandes

Foto da autora, por Vasco Ribeiro (2011).

Miragens e passagens




Vejo o exterior
da desabitada casa
onde dantes a vida permaneceu

Nas cores esbatidas
de suas paredes envelhecidas
se ramificam as tenazes do desmoronamento

Tanto tempo passou
desde a última visita a este lugar
e as memórias são as mesmas

Nada mais de sólido resta
nesta surdez que tudo envolve
perante o ruído do vento que passa

Tantas gerações
aqui depositaram seus alicerces
e inundaram este espaço de alegrias e tristezas

Vejo neste exterior mutilado
o sentido de que nada mais vale
que a coerência connosco e com os outros

E a verdade
é simplesmente o sentido de cada vida
mesmo que a mentira caminhe em paralelo

Restam as imagens
que ocupam a retina
de cada um dos seus passageiros


António MR Martins

Foto de "Lisboa, minha eterna cidade...", by Gonçalo Lobo Pinheiro

quinta-feira, 12 de abril de 2012

a um amor-maior


nada... absolutamente nada
existe para além de ti.
nem mesmo o silêncio das palavras
por dizer.

as janelas da alma fecharam-se
sem hesitar
às ânsias de incertezas permanentes.

Nas frestas das portas ainda abertas
à luz,
desenha-se o olhar da ausência.
nas arestas vivas do meu corpo
o teu doce odor colado a mim.

no fundo do sonho...
no fundo de cada sonho,
o aquático mar do teu beijo
num presságio de fúria de viver.


Alvaro Giesta