terça-feira, 31 de agosto de 2010

[não se despede a luz quando a noite]


não se despede a luz quando a noite
nasce ao sabor das sílabas dos dias
antes se inventa
com seu traje de breu e de sombras
e seus lábios doces
de amoras silvestres que esperam
do filho pródigo o regresso
à terra que o viu nascer

a luz é como esta flor
que se recusa a ser olhada
porque é desejo sonho primavera
bolso de criança que
traz todos os segredos que há no mundo

não se despede a luz quando a colhes
mesmo que água seja entre os dedos
desenhando o caminho que desenhas
quando no chão semeias teu cansaço


Xavier Zarco

A minha simples referência pelos prémios recentemente conseguidos por este extraordinário poeta e amigo. Pelo seu inédito: "Anotações sobre os olhares no óleo sobre tela 'Retrato de Mulher ou le déjeuner' de Manuel Jardim"; uma Menção Honrosa no Prémio Literário Afonso Duarte - 2010 e na obra inédita "Dizer do Pó", foi distinguido com o Prémio de Poesia Manuel Maria Barbosa du Bocage - 2010. 

As vinhas da nossa vida

Esse cheiro de tua pertença,
num aroma tido por meu;
que faz jus à maior diferença
e outrora me enlouqueceu.

Sedução nos palcos da vida,
de tempos tidos por valiosos;
sublime regaço a tua guarida
um dos factores primorosos.

Envolvidas as circunstâncias
e as naturais contingências,
cimentou-se o nosso enredo.

Fermentámos as fragrâncias,
esquecemos as indulgências
e plantámos nosso vinhedo.


António MR Martins

imagem in http://spintavel.blogtv.uol.com.br/2008/03/17/vale-dos-vinhedos-rs (na net)

domingo, 29 de agosto de 2010

LOBOS

Dónde se esconden los viejos lobos.
En qué parte de mi piel.
Por qué son leves
los pálpitos.
Dónde está el amor.
Quién espanta tus labios
y tu pico de colibrí.
Dónde están
con sus colas de sol.
Traigan las cenizas.
Traigan el canto de los pájaros.
Devuelvan la suavidad del viento
y los besos que nunca te dí.
Dónde están los lobos
que devoran mi silencio
se comen esta soledad
se comen la noche
se comen el vacío
y beben mi tristeza
y pasan alegres
las jaurías.
Dejando cenizas
y rastros
de corazón.


Poeta Gregorio Riveros

imagem in http://www.imotion.com.br/ (na net)

Luta contra o ocaso

Resvalam nos ramos da sorte

Os projectos do homem só

Que vai sentindo o desnorte

De o quererem reduzir a pó

Vai sobrevivendo à morte

Para que dele não tenham dó


António MR Martins

foto in http://br.taringa.net/ (na net)

A SOMBRA DO REDEMOINHO

A sombra do redemoinho
Chegou-se e ficou de mansinho
Na rua onde gasto os passos
E onde escondo os abraços
Nas juntas que separam a calçada
No negro que pinta a estrada
E deixou-te ficar sozinho
Mesmo ao lado do caminho.


Redemoinhas nas sombras
Enrolado ergues-te e tombas
Mãos estendidas em pedido
No vento que te leva perdido
Corpo tenso, corpo crispado
Olhar quase vazio, assustado
Pensa que quando me abraças
E o vento acalma, tu descansas

Dá um passo meio ao lado
Das linhas do teu passado
Rompe o vento em furacão
Grita bem fundo um «não»
Acende as sombras que giram
Não vês que elas te admiram?
Tens o caminho traçado
À espera de ser palmilhado.

Goreti Ferreira

Mensagem

Se espreita um sinal
Um som
Um assobio fatal

Se espreita um acenar
Um gesto
Um adeus para esfriar

Se espreita um carinho
Um abraço
Um copo de vinho

Se espreita um olhar
Um piscar
Uma imagem por falar

Se espreita a coragem
Uma acção
Uma simples mensagem

Se espreita a razão
Uma emenda
Uma certa frustração

Se espreita de tudo
Uma luz
Um som
Uma voz
Um aperto de mão
Uma solução

Mas o mundo é mudo


António MR Martins

imagem by Hélder Júnior (na net)

sábado, 28 de agosto de 2010

Apenas o poema

Um poema simples


Pode ser nada

E incendiar um mundo

E corromper outro



Um poema

Pode ser uma moeda

De três faces

E nenhuma delas

A sorrir



Pode ser um rasgo de sol

Uma ruga de sorriso

Os passos de quem voa

Ou apenas a madrugada.


Carlos Teixeira Luís

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Destino consumado

Um odor invade o ambiente
Onde permaneço

Um cheiro que deprecia
O suco da nossa respiração

Muitos não valorizam
Esta mudança
Deixam que odor se cimente
Ganhando tentáculos inesperados

Ninguém age de modo prudente
Pelo que do mundo conheço

Tudo se distancia
Sem respeitar a solução

As coisas não se eternizam
E perdem a pujança
Não há quem lamente
Por nos sentirmos amordaçados

Surge o vento num repente
Num sentir que prevaleço

Mastigo a melancia
Produto de sustentação

As atitudes se sintetizam
Nesta efémera bonança
Tudo continua latente
Os navios permanecem ancorados

Fica a ideia pertinente
De que me desconheço

Ai como me apetecia
Fluir em condensação

Por aqueles que infernizam
O berço de uma criança
Numa sociedade deficiente

E assim se realizam
Nesta vida de mudança
De uma forma consciente

Todos os desajustados
Se sentem assim despojados

António MR Martins

foto in http://www.fotosearch.com.br/, Ingram Publishing - RF Royalty Free (na net)

Levitar


A minha boca,
Onde o fogo,
Acende e cintila,
Arde e espera.
Espera… no silêncio
Pelo convite ao voo,
Pelo desejo,
No encontro só nosso.
O momento,
Que mata a nossa sede,
Colhe o calor do verão,
Tão próximos,
No toque nu e inocente dos lábios.
A minha boca,
Leva a beber a tua
Êxtase de doçura e sabores
Dando cor às romãs
E tudo desperta
No beijo.

Luís Ferreira

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Incoerências

Os sintomas
Afiguram-se os mesmos
Numa dorida convalescença

A mágoa retoma o prurido
Na inflamação do sentido
Com que a alma se afecta

Os sonhos
Desde já descabidos
Se evaporam como água exposta ao sol

Sente-se o aperto da fuga
E o evidente desintegrar
De um companheirismo em conflito

As evidências
São claras como a água
Que pura brota do epicentro do seu nascer

Só resta clarificar ideias
Despontar outros ideais
Que a vida não pára ao primeiro sinal vermelho

A existência quantifica-se
Nos habitantes que a possuem
O vil tratado ratifica-se
E as esperanças se diluem
O humano prontifica-se
E os estados (d'alma) evoluem


António MR Martins

imagem em: http://algoacerca.blogspot.com/2009/04/contradicoes-e-incoerencias.html (na net)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Até sempre


Ainda te lembras de como eu partia os brinquedos em criança para me sentir infeliz? E depois remendava tudo com a saliva das lágrimas?
Não?
Eu conto-te se te encostares a mim, se me abraçares nos destroços do beijo.
Pode ser amanhã, que não tenho pressa, ou se quiseres, nunca.
Esperarei por ti até as estrelas gelarem.

José Ilídio Torres

O suave correr da lágrima

Corre a lágrima tão perfeita,
corre descendo com afeição;
vai por uma mente desfeita
ou pelo quebrar duma ilusão.

Apesar de correr na tristeza,
pode acontecer numa alegria.
Nunca temos a total certeza
Poderá ser simples magia!...

A lágrima dos sentimentos
pode correr tão abundante
como a água saída da fonte.

Será por nossos lamentos,
por um sorriso irradiante
Ou por algo que nos afronte?

António MR Martins

imagem em: http://umdiatudovaimudar.zip.net/ (na net)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

No passado

Sei que é errado, viver no passado
mas o passado é vida!
São caminhos traçados
Lembranças boas e más

Sonhos, esperanças
Concretizadas e por concretizar
Não posso viver no passado
mas esquecê-lo jamais!

São as minhas raízes,
aquele passado sou eu!

A mesma que no presente
sonha um futuro melhor!

Ana Casanova

in livro "Desabafos d'Alma" - Poemas

Apesar de tudo grato à vida

Negaram-me a plenitude
Sem ter de saber o que é
Estive bem perto do açude
E do abismo que me deu fé

Envolvi-me na serenidade
Pés assentes no meu chão
Fechando portas à maldade
Registei a mais alta sensação

Designei-me entre os simples
No existir que me envolve
E no caminho já percorrido

Situo-me entre os contentes
Pelo que a vida me devolve
Estando assim agradecido

António MR Martins

imagem in http://wp.clicrbs.com.br/bastidoresdatv/2008/04/?topo=48,1,1,,,48 (na net)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pai das Donas

Era uma estória
Vinda dos tempos
Longínquos
Há muito sumidos
Nas brumas da memória
Das gentes
Da minha terra

Rezava então
A dita
Que por certo
Mais não seria
Do que uma lenda...

A lenda de um pai
E das ricas
Filhas suas

Levassem eles
O tempo que levassem
A descer ao Domingo
Lá do cimo
Da serra
Até às portas da vila
De Côja
Pois que não se rezaria
A missa
Enquanto o pai e as donas
Ali não chegassem!

Quem não sabia
Fica então a saber agora
Que dessa curiosa estória
Vem o nome
Da minha pequena aldeia
Perdida nos montes
Da serra do Açor:
Pai das Donas


Lurdes Dias "Cleo"


Evidente evidência

No rastro
Da evidência
Se aprova o infinito

Mesmo sem a saliência
Da revelação de um mito

Pela subsistência
Enraizada
Pela mente

Sem qualquer aversão
Ou por simples atrito

A evidência
Não se torna tanto

Alguém
Tem de engolir sapos
Dos vivos

Porém
No conhecimento
Das esferas do comando
Se resolve a questão

Sem qualquer opressão
Castigo
Ou prisão

O destino
Das próximas férias
É numa ilha do Pacífico

Aquele lugar mítico

Sem evidência
Ou saliência


António MR Martins

foto in http://www.apollo11.com/ (na net)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Palavras


Palavras

como delas gosto
cor-de-rosa, roxas
cor-de-laranja, amarelas

suaves como a penujem
aquecem minha pele
cor-de-fogo despertam
a minha sensualidade

se são pretas tomo
muito cuidado

se castanhas são
começo a cismar
um arrepio os cabelos
me vai levantar

as palavras contam-me
histórias reais
as palavras histórias
inventadas me vão contar

elas dão-me saber

conduzem-me à tentação de sonhar
para um abismo me podem atirar

as palavras dos outros, não sei
as minhas são por vezes
minha cilada


Maria do Rosário Loures-Popp

in livro “Atlantikblau u. Olivengrün”

Com tanta espera

No esperar se salienta
A acalmia do interior
De quem permanece esperando

Pelo tempo então marcado
E pela hora contemplada
Na espera se tenta alcançar

Há quem se desorienta
Pelo passar opressor
E pelo que fica cismando

Algo lhe terá escapado
Ao esperar uma namorada
Num intenso soluçar

Será da vestimenta
Num preceito sem valor
Ou pelo que se vai passando

É um estado detestado
Pelo qual não recebeu nada
E que não consegue ultrapassar

Saber esperar é virtude
Do rigor e do carisma
Nervosismo não dá saúde
Quando visto neste prisma
Perante tanta vicissitude
O esperar já nada anima


António MR Martins

foto in http://ourmagicshell.blogspot.com/2009_11_01_archive.html (na net)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Apresentação do livro "Foz Sentida", em Ansião a 5 de Junho de 2010 - O Vídeo

O vídeo da apresentação do livro "Foz Sentida", de António MR Martins, em Ansião, a 5 de Junho de 2010, no âmbito da 14ª. Feira do Livro local.


A sessão ocorreu no Centro de Interpretação Ambiental do Nabão, pelas 21H30, tendo sido presidida pelo sr. vice-presidente da Câmara Municipal de Ansião, Dr. Fernando Inácio Medeiros.

Obra e autor foram apresentados pelo poeta Xavier Zarco. 

A feira do livro, propriamente dita, teve lugar ente 1 a 6 de Junho de 2010. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ingenuidade

Puxo a pele, puxo os cabelos, puxo a raiva

Que está elástica e gigante e me envolve

Que me queima, que me rasga e revolve

Que nada limpa, nada emenda nem resolve

Puxo as lágrimas que se esticam para ser rio

Ou se espaçam para ser gotas de suor… frio

Puxo-me em vómito de revolta, de desvario

Puxo a raiva, puxo a pele, puxo os cabelos

Que flutuam à superfície da água do poço

Que me afogo e já quase não me ouço

Estranho murmúrio, resto de grito, mortiço

Largado o sonho à mercê da realidade

Que se negou crua, que se quis verdade

Com injustiça se vela, morto, na eternidade

Puxo os cabelos, puxo a raiva, puxo a pele

Mortalha enrugada da falecida ingenuidade….


Goreti Ferreira

A magia da fotografia, by Gonçalo Lobo Pinheiro (meu filho)

As imagens se detêm
No lugar da exposição
Em resplandecente sedução

Olhos meigos do fotógrafo
Num único momento
De empatia tão definida

Trabalhos que ali têm
Observadores em ebulição
Num vai vem de transição

Eis mais um parágrafo
Daqueles que saliento
No decorrer de sua vida

Resultados que provêm
Da perspicácia e da razão
Surgidos em cada ocasião

Como um simples autógrafo
Dado em cada evento
Sempre de forma sentida

O pulsar do encantamento
Por um disparo preciso
Resulta a qualquer momento
Num constante sorriso
Por vezes o provento
É conseguir o paraíso


António MR Martins

foto de Cândido Barbosa, by Gonçalo Lobo Pinheiro

Com os pés despidos

Chorei algumas vezes
nas folhas de papel
com a tinta azul
que esboça as letras…

Com os pés despidos
vesti o espírito
nos Teus aromas
e sobre o altar
deixei fardos
que vincaram as costas.

Bebi as Tuas mensagens
e alimentei-me das melodias
que me ensinas-te a tocar
com a ponta dos dedos
no clarinete
que louvava o Teu Nome…

Neste agora
sinto o peso do corpo
na leveza da Tua alma!
…e sabes?
Tenho saudades
de na Tua presença
lavar o rosto
e no regresso
carregar nos lábios
o sorriso que traçavas em mim!

Hoje também chorei na tinta destas linhas…

Ana Coelho

domingo, 1 de agosto de 2010

António Feio, lembro-me de ti

Perde-se o homem num sentido
De uma interpretação coerente
Pela exaustiva luta perdida

Contra o facto de estar doente
Interpretou imensas peças
Com enorme persistência

Actor meu contemporâneo
Que vejo desde quase sempre
Por vezes muito espontâneo

No teatro incansável e querido
Na televisão sempre presente
E em todos os ensaios da vida

Foi artista mordaz e pertinente
Que a ninguém pediu meças
Demonstrando competência

Afasta-se para outro lugar
Porque a dor mais maligna
Não conseguiu ultrapassar

Um homem quando perece
Se ofusca em escura valeta
Sortilégio de quem falece
Por erro que não cometa
Mas o actor se fortalece
Por uma conversa da treta


António MR Martins