Puxo a pele, puxo os cabelos, puxo a raiva
Que está elástica e gigante e me envolve
Que me queima, que me rasga e revolve
Que nada limpa, nada emenda nem resolve
Puxo as lágrimas que se esticam para ser rio
Ou se espaçam para ser gotas de suor… frio
Puxo-me em vómito de revolta, de desvario
Puxo a raiva, puxo a pele, puxo os cabelos
Que flutuam à superfície da água do poço
Que me afogo e já quase não me ouço
Estranho murmúrio, resto de grito, mortiço
Largado o sonho à mercê da realidade
Que se negou crua, que se quis verdade
Com injustiça se vela, morto, na eternidade
Puxo os cabelos, puxo a raiva, puxo a pele
Mortalha enrugada da falecida ingenuidade….
Goreti Ferreira
1 comentário:
Um poema altamente conseguido! Adorei le-lo! Parabéns!!!
Enviar um comentário