segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ingenuidade

Puxo a pele, puxo os cabelos, puxo a raiva

Que está elástica e gigante e me envolve

Que me queima, que me rasga e revolve

Que nada limpa, nada emenda nem resolve

Puxo as lágrimas que se esticam para ser rio

Ou se espaçam para ser gotas de suor… frio

Puxo-me em vómito de revolta, de desvario

Puxo a raiva, puxo a pele, puxo os cabelos

Que flutuam à superfície da água do poço

Que me afogo e já quase não me ouço

Estranho murmúrio, resto de grito, mortiço

Largado o sonho à mercê da realidade

Que se negou crua, que se quis verdade

Com injustiça se vela, morto, na eternidade

Puxo os cabelos, puxo a raiva, puxo a pele

Mortalha enrugada da falecida ingenuidade….


Goreti Ferreira

1 comentário:

Maria do Rosário Loures disse...

Um poema altamente conseguido! Adorei le-lo! Parabéns!!!