III (de “O Guardador de Rebanhos”)
Ao
entardecer, debruçado pela janela,
E
sabendo de soslaio que há campos em frente.Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que
pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que
andava preso em liberdade pela cidade.Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas coisas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos…
Por
isso ele tinha aquela grande tristeza
Que
ele nunca disse bem que tinha,Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros…
Alberto Caeiro (1889-1915), in “III Poemas” (Obras Completas de Fernando
Pessoa), página 25 (“O Guardador de rebanhos”), Edições Ática, Colecção Poesia,
Julho de 1997.
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