domingo, 19 de abril de 2015

Florbela Espanca





O MEU ORGULHO

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velhos fez nascer as rosas!

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas… Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem…
Mas digo para mim: «Não me merecem…»
E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!

Florbela Espanca (1894-1930), in “Sonetos”, com introdução por Maria da Graça Orge Martins, página 68, edições Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, nº. 32, 4.ª Edição, Junho de 2002.

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