quinta-feira, 23 de abril de 2015

António Ramos Rosa






[Um peixe cintilante ou uma pequena mão adolescente]

Um peixe cintilante ou uma pequena mão adolescente
um seio azul e róseo de ténues veias delicadas
era o seio da fragilidade da água
e era já o tumulto oceânico da pátria

Tudo o que ela herdou se projecta no horizonte
e ela vê a rapariguinha frágil que ela foi
sobre um potro branco num pomar verdejante
envolta nas espirais de um vento de lasciva doçura

Mas na sua visão perpassam as imagens de outro glorioso
labaredas de sangue espirais de vitória
e os longos anos em que esteve subjugada
Ela vê a sua nudez com voluptuoso orgulho
e abandona-se grávida da sua nobreza ardente
às ondas da sua indolência iluminada

António Ramos Rosa (1924-2013), in “Pátria Soberana seguido de Nova Ficção” (Prémio Literário de Sintra – Ruy Belo / 2001), página 23, edições quasi, 2.ª Edição, Novembro de 2001.

Foto do autor: por João Silva.

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