segunda-feira, 6 de abril de 2015

Licínia Quitério






[Sento-me na inutilidade]

 
Sento-me na inutilidade das coisas quando secam os frutos

à míngua de carícias.

 
Peso tanto como as minhas pernas cansadas de alinhavar

viagens.

 
A penumbra é um lugar indeciso aninhado na paciência do

tempo.

 
Na hora de folhear as outras horas, passam por mim cavaleiros

de infindáveis batalhas, corças assustadas, cabeleiras fulvas,

flores de oiro velho.

 
Espero um teatro novo, de luz sem sombras, de suspiros de

riachos, de corpos nus, terrenos, fabulosos, fabricando o

pão, repartindo.

 
Adormeço.

 
Licínia Quitério, in “ O Livro dos Cansaços”, página 25, edição da autora, Fevereiro de 2015.

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