quarta-feira, 29 de abril de 2015

Herberto Helder





já não tenho mão com que escreva nem lâmpada,
pois se me fundiu a alma,
já nada em mim sabe quanto não sei
da noite atrás da luz: livros, frutas na mesa, o relógio que mede
minha turva eternidade
e o tempo da terra monstruosa,
já nada tenho com que morrer depressa,
excepto
tanta hora somada a nada:
e acautela a tua dor que se não torne académica

Herberto Helder (1930-2015), in “Poemas Completos”, Servidões, página 674, edições Porto Editora, Outubro de 2014.

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