terça-feira, 14 de abril de 2015

Manuel Maria Barbosa du Bocage






[Não sou vil delator]

Não sou vil delator, vil assassino,
Ímpio, cruel, sacrílego, blasfemo;
Um Deus adoro, a eternidade temo,
Conheço que há vontade e não destino.

Ao saber e à virtude a fronte inclino;
Se chora e geme o triste, eu choro, eu gemo;
Chamo à beneficência um dom supremo;
Julgo a doce amizade um bem divino.

Amo a Pátria, amo as leis, precisos laços
Que mantêm dos mortais a convivência,
E de infames grilhões oiço ameaços !

Vejo-me exposto à rígida violência,
Mas folgo e canto e durmo nos teus braços,
Amiga da Razão, pura Inocência.

Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), in “Poesias”, colecção Pequeno Tesouro, página 82, edições Círculo de Leitores, selecção, introdução e revisão de Orlando Neves.

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