A FACA
A
palavra será faca
o
sentido será gumea imagem será chama
mas a matéria é o lume.
Lume
dos nervos riscados
pelo
fósforo do medolume dos dentes cerrados
pela goma dum segredo.
Lume
das faces de cera
lume
dos dedos de callume golpe lume pedra
lume silêncio metal.
Lume
que se acende a frio
e
nos devora por dentrolume agulha lume fio
da faca do pensamento.
Lume
navalha que rasga
o
ventre da solidãovingança de quem se gasta
queimando frases em vão.
Lume
lembrança das coisas
que
nos arderam na vozcinza viva que nos corta
e nos separa de nós.
José Carlos Ary dos Santos (1937-1984), in “Vinte anos de poesia”, página 77, edições
Círculo de Leitores, 2.ª edição, Maio de 1984.
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