REGISTRO CIVIL
Ela
colhia margaridas
quando
eu passei. As margaridas eramos corações de seus namorados,
que depois se transformavam em ostras
e ela engolia em grupos de dez.
Os
telefones gritavam Dulce,
Rosa,
Leonora, Carmen, Beatriz,porém Dulce havia morrido
e as demais banhavam-se em Ostende
sob um sol neutro.
As
cidades perdiam os nomes
que
o funcionário com um pássaro no ombroia guardando no livro de versos.
Na última delas, Sodoma,
restava uma luz acesa
que o anjo soprou.
E na terra
eu só ouvia o rumor
brando, de ostras que deslizavam
pela garganta implacável.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), in “Brejo das Almas”, página 19, Editora
Record, Rio de Janeiro, 2001.
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