quarta-feira, 19 de dezembro de 2012



17 - Diogo Godinho

As minhas noites são iguais aos
meus dias.
Agarro-me à insónia, fiel companheira
de madrugadas em que me relembro
da tua dor, da dor da tua ausência,
da dor do meu pensamento, da dor
enferma, mesquinha, atroz.
A dor que a noite me trouxe entranhada
nas veias.
Deambulo por entre fileiras de copos;
mantos brancos, rostos brancos, pós brancos.
A cabeça estala, esfumam-se cinzas
em que te vejo partir, em que me
vejo partir.
A noite é vida, a vida é noite,
e o dia é nada.
Cumpro horas preventivas
pelo delito da nascença.
A dor agarrou-me
no seu estado indecifrável.
O amanhã é somente agora
e o hoje arrasta-se em ampulhetas
paradas.
Não há luz ao fim do túnel.
A madrugada amputou-me a dor
da razão.
A esperança apanhou a carruagem
da frente
deixou-me apeado na convulsa
nostalgia do presente e
só me esqueci de ti, quando a
tua dor se apartou da minha dor
e os meus olhos se fecharam
nas lágrimas dos teus.
Perdi-me.
Perdoa-me.

 
Diogo Godinho

in livro “Estação Terminal”, páginas 60 e 61, edições Temas Originais, Coimbra, 2011.

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