terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A FORMA DO AMOR

 


Uma vez mais acende-se a renúncia
como um caudal nocturno arrastando as palavras
despertos repetimos a essa luz os sons
agudos que tínhamos cantado

A noite não será igual a tantas outras
nem decerto o amor tem a forma de espada
porém tudo é idêntico ao fotograma estático
de súbito retido no correr das imagens

Parámos nesse ponto em que o choro da noite
perdeu a consistência e se desfez em mármore
o amor tem a forma que as palavras
não podem dar à hora da paragem da alma

 
Gastão Cruz

in livro “A Moeda do Tempo”, página 15, edições Assírio & Alvim (colecção poesia inédita portuguesa), Lisboa, 2006.

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