quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Faleceu João Carlos Martins

 


Faleceu hoje um grande homem da cultura, artista plástico, sobretudo aguarelista, mas também poeta, um excelente poeta, João Carlos Martins. Há algum tempo doente, mas sempre lúcido, decidiu publicar tudo aquilo que foi escrevendo no sentido de o conseguir, ainda, em vida. Não foi possível, mas a obra em livro acontecerá, tenho quase a certeza. Será algo de muito valor para quem ama a língua portuguesa e gosta de poesia, em particular.

Um poeta sintético, na sua explanação escrita, dizendo muito em poucas palavras, mas sempre com uma beleza indescritível, como poucos o conseguirão fazer.

Fica aqui a minha homenagem ao poeta, com a publicação de dois dos seus poemas, da sua obra “Abismo de Palavras”, das páginas 20, 6. e 38, 24., uma edição Temas Originais, Coimbra, 2011.  

6.

Alguém deixou à noite
luzes e vestígios
de quem terei sido:

Talvez os derradeiros
a depositar em mim
a dor e o prazer.

Por um instante assim
a tua voz abriu
um sulco no meu ser.

 
24.

Chego hoje à serra
para ser senhor e rei
de todo este granito.

Desde o início das coisas
só levo do que não sei
carrego do que não sinto.

Levo mais água
no meu cansaço
do que cabe de silêncio
em cada grito.

João Carlos Martins

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