quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Confissões de uma vítima de violência doméstica

 
6 - Vera Sousa Silva
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sou um corpo que deambula ao acaso,
que vive com medo todo o dia.
Amostra de ser mal amado
sem conhecer felicidade e alegria.
 
Uma mulher constantemente criticada
que chora apenas escondida
consciente que não vale nada
e a imagem totalmente denegrida.
 
Escondo os hematomas como sei.
Habituei-me há muito a mentir…
Vivo uma vida como nunca pensei
com a maior parte do tempo a fingir.
 
Esta mão, assim queimada, e a doer,
é porque sou tão distraída…
Meti-a numa panela a ferver
e fiquei tão arrependida.
 
Tapo as nódoas negras com roupa
de Inverno, mesmo no Verão.
Apenas porque sou meia louca
passo a vida a cair no chão.
 
A boca, assim cortada,
foi apenas porque sorri…
Não sei estar calada!
Apanhei porque mereci.
 
Quando parti o braço direito
foi porque me maquilhei nesse dia.
Mas afinal, foi bem feito,
porque parecia uma vadia.
 
O meu corpo está tão cansado
não aprendo a me comportar
para viver bem com o meu amado,
que tudo faz por me amar.
 
Farta dos meus erros e maldade
subo até ao vigésimo andar!
Salto, enfim, para a liberdade,
e já sou feliz… a voar!
 
Vera Sousa Silva
 
in livro “Bipolaridades”, páginas 13 e 14, edições Lua de Marfim, Póvoa de Santa Iria, 2012.
                                                   

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