Sentei-me e quedei-me, sereno, meditando pelo
infinito. O burburinho centralizava a fixação auditiva enquanto a dor, também,
assolava alguns dos presentes. O espaço da capela ecoava os sentidos das vidas,
as passadas, as existentes e as vindouras, na roda efémera de todas as
vivências. As velas ambientavam os meios e quem chegava dirigia-se à urna, onde
o cadáver estava exposto aos olhares dos visitantes, e benzia-se depois de
salpicar de água benta o corpo moribundo, subtraído do espírito que, possivelmente,
observaria todos os passos que tendiam a homenagear o seu anterior corpo,
defunto. Perante tal desenrolar vão-se fazendo conversas. Uns falam mais alto
outros em tons mais baixos, quase segredados. Alguém comenta para outro, num
grupo de quatro ou cinco pessoas, “o
negócio é que vai de mal a pior…”. Do lado contrário outras expressões
acumulam o prurido na sala. Nestas ocasiões sempre se fala de tudo um pouco, e
às vezes de nada, de futebol, da política, dos colegas, da televisão, das
viagens e até do falecido: - Que boa
pessoa que era! São sempre os melhores que partem primeiro! Vai cá fazer muita
falta! Alguém que ouve comenta em surdina, para o seu companheiro de acesso
àquele local: - Olha que grande lata! Andava
sempre a dizer mal do morto, enquanto vivo, agora diz que era a melhor das
pessoas. Hipócrita! Todos sabemos que há um fim para tudo, só que tal se
diferencia apenas nos contextos.
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