domingo, 16 de dezembro de 2012

“Atlanticidade”

 
Funchal - Ilha da Madeira
Imagem in 1001imagens.blogs.sapo.pt
 

I

Há um oceano
Que separa as margens do silêncio
Em cada descoberta emergente
Onde os cascos das caravelas
Solidificaram um espaço
Hoje fora de todo o tempo

II

Há um navegar precioso
Ultraje de tantas contendas
Na interferência de tantos ideais
Numa junção incompleta
Jamais aceite pelo mundo
Aos olhos das cruéis tormentas

III

Há um encontro de esperança
Ateado pela insegurança
E pelos prémios da revolta
O sentido único é a baía
No albergue de tantos navios
Portadores da mensagem

IV

Há esse mar tão profundo
Que Camões tanto exultou
Na palavra da envolvência
Ai grandioso Portugal
Que te ultimas no desencanto
Em que abandonas tuas ilhas

V

Há um caminho marítimo
Nas preces dos marinheiros
Que se perderam no tempo
Olvidado por tantas gestas
Na troca vil da ganância
Que as levou para outros mares

VI

Há um Atlântico perdido
Em tanta imensidão
Onde a história já pernoita
Águas de tantos segredos
Vitórias de muitos contrastes
Que a memória dissipou

VII

Há o mar da coragem
Mensageiro da ribalta
Num apogeu de um abraço
Que nas falésias embate
O pulsar de suas ondas
Com tanta sofreguidão

VIII

Há a separação nesse mar
Onde se une toda esperança
No encanto de cada chegada
A partida noutro instante
Torna a dividir no vazio
Cada culminar da união

IX

Há um preceito na origem
No âmbito de cada destino
Como mito da descoberta
De João e de Tristão
Imbuídos pelo esplendor
De ver terra no Atlântico

X

Há uma pérola oceânica
Num Atlântico de virtudes
Onde a ponte é espontânea
Tal como o Continente anseia
Pelo caminho mais fraterno
Rumo à Ilha da Madeira

 
António MR Martins

Nota: - Este trabalho foi elaborado a partir de um convite, que me foi feito, e entregue aos CEHA – Centro de Estudos de História do Atlântico, a fim de fazer parte do conteúdo de uma obra a ser publicada no final de 2011, sobre o Atlântico e a Ilha da Madeira, no seu interagir com o Continente, mediante determinados conceitos e pressupostos que, antecipadamente, me foram apresentados. Por dificuldades financeiras não chegou a ser editada, como tal, e com a devida autorização, aqui estou a publicá-la, na íntegra, divulgando-a.

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