"Script", a imagem de capa do meu primeiro livro "Ser Poeta",
by Gonçalo Lobo Pinheiro.
Jaz o poeta pelo difamar da sua sujeição. Tanta
palavra rude rodeou o seu extenso caminhar, sem que pudesse apresentar uma
simples desculpa ou uma singela explicação. As palavras que foram suas
começaram a não ter a força de um passado recente e outro mais longínquo. Quase
se sentiu amordaçado por uma censura que lhe espetou a estocada final. Ele que
definiu aquele movimento depauperante e ardiloso, como armadilha da ultimação,
e jamais buscou outras palavras para a demanda. Deixou de se alimentar dos seus
poemas e de beber na fonte de seus versos. Deixou passar o tempo sem rejeitar
tal desígnio, mal sentindo o ultraje do fervor que o foi aprisionando em todos
os sentidos. Começou por cambalear e depois perdeu a audição. Sua visão começou
por se turvar e o raquitismo de seu físico emoldurou o espaço de todos os
comentários. Nunca mais se leu e ouviu uma palavra sua e apenas restaram as que
tinha inventado até ao início desta contenda, mas omitidas pela vil opressão.
Nunca mais se sentiu o mesmo, até ao fim que foi o seu. Acabou um dia ali, em
abrupta queda, sem que ninguém por tal desse. Findou-se. Todavia, alguém
comentou, ainda: - Há um poeta esquecido na morgue da incompreensão.
António MR Martins
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